Dorsai
Um destes dia, numa das muitas feiras de livros com que frequentemente me cruzo (desta vez penso que nas festas de Corroios), comprei mais uns quantos livros da colecção Argonauta, da editora «Livros do Brasil». Acabei agora de ler um deles, Dorsai!
Dorsai é uma obra de ficção cientifica, da autoria de Gordon R. Dickson, autor galardoado com três prémios hugo e um prémio Nébula.
Donal resolveu afastar-se, pois já não valia a pena continuar a escutar a conversa. Caminhou em silêncio até calcular que já não poderia ser ouvido; a partir daí afastou-se rapidamente, sem se preocupar com o barulho que fazia. O percurso seguido até encontrar Hugh levara-o a atravessar quase toda a povoação, e como tal estava agora muito perto do perimetro da sua força. A curta noite do hemisfério norte de Harmonia estava já a ceder lugar a uma alvorada cinzenta. Dirigiu-se aos seus homens, estremecendo ao ter mais um dos seus estranhos pressentimentos.
– Alto! – gritou uma das sentinelas quando Donal dobrou a esquina da última casa. – Alto! Dê-me a senha… senhor!
– Vem comigo! – gritou Donal. – Como é que se vai para a área do Terceiro Grupo?
– Por aqui, senhor – disse o homem, seguindo à sua frente, esforçando-se por acompanhar as largas passadas do seu comandante.
Entraram de rompante na área do Terceiro Grupo; Donal levou o apito aos lábios e apitou a chamar Lee.
– O que é… – resmungou uma voz ensonada vindo de uns seis metros de distância. Um dos sacos-cama rolou de lado e abriu-se para revelar o corpo ossudo do ex-mineiro. – Mas que raio… senhor?
Donal avançou para o homem e agarrou-o com ambas as mãos pela gola do blusão, virando-o na direcção do território inimigo, do qual vinha uma leve aragem.
– Cheire! – ordenou.
Lee pestanejou, esfregou o nariz com os dedos ossudos e aspirou o ar do amanhecer. Repetiu a inalação mais duas ou três vezes, as narinas bem abertas… e de repente ficou completamente acordado.
– É o mesmo cheiro, senhor – disse, virando-se para Donal. – Só que agora é mais forte.
– Muito bem – disse Donal, dirigindo-se à sentinala. – Quero que me leves uma mensagem aos chefes de grupo séniores do Primeiro e Segundo Grupos. Eles qe ponham os homens todos em cima das árvores, bem escondidos no meio das copas, e subam também depois de tudo pronto.
– Em cima das árvores, senhor?
– Mexe-te! Quero todos os homens desta força a doze metros do chão dentro de dez minutos… com as suas armas!
A sentinela virou-se para ir cumprir a ordem.
– Se ainda tiveres tempo, depois de entregares a mensagem tenta passá-la ao QG do Comando. Se não fores capaz, trepa para a árvore mais próxima. Percebeste?
– Percebi, senhor.
– Então, desanda!
É assim que Donal evita que a primeira vez que é Comandante de Força, as tropas sob o seu comando sejam transformadas em picadinho, para grande desgosto do seu patrão, que tinha melhores planos para o encontro dessa madrugada.
Dorsai é o primeiro de uma série de livros designados de Childe Cycle, que nos fala de um universo bem mais populado de humanos do que o conhecemos hoje, em que cada planeta se especializa num conjunto muito específico de competências, em que essa especialização é levada a um extremo que em 1960 se começava a vislumbrar, mas que hoje já conseguimos perceber, que já conseguimos antever. Este é o primeiro livro de Gordon que leio, mas não será certamente o último (mais que não seja porque já tenho o Necromante na pilha de livros à espera para serem devorados). E claro, Gordon Dickson passou a ser um nome, juntamente com HeinLein, Philip Dick e Asimov de que as minhas prateleiras nunca terão livros a mais!
Source: Páginas Tantas