A Terra dos Ratos – Elegendo Gatos

É a história de um lugar chamado Terra dos Ratos. A Terra dos Ratos era um lugar onde todos os ratos viviam e brincavam, onde nasciam e morriam. E eles viviam mais ou menos como tu e eu vivemos.

Eles até tinham um parlamento. E a cada quatro anos eles tinham uma eleição. Costumavam ir até às urnas e votar. Alguns deles até tinham boleias para as urnas. E alguns eles até tinham também boleias para os quatro anos seguintes. E em cada dia de eleições todos os pequenos ratos costumavam ir às urnas e costumavam eleger um governo. Um governo constituido por gatos grandes, gordos e pretos.

Agora, se pensam que é estranho que ratos elejam um governo constituido por gatos, olhem apenas para a historia do Canadá (NT: ou de Portugal) nos últimos 90 anos (35 no caso português) e talvez vocês vejam que não eram mais estúpidos do que nós somos.

Não é que eu esteja a dizer nada contra os gatos. Eles eram uns gajos porreiros. Eles conduziam o governo deles com dignidade. Eles aprovavam boas leis – isto é, leis que eram boas para os gatos. Mas eles que são boas para gatos não são muito boas para os ratos. Uma lei dizia que os buracos dos ratos tinham que ser grandes o suficiente para o gato poder meter a pata lá dentro. Outra lei dizia que os ratos apenas podiam viajar a determinadas velocidades — para que o gato podesse apanhar o seu pequeno-almoço sem muito esforço.

Todas as leis eram leis boas. Para gatos. Mas, oh, eram leis duras para os ratos. E a vida ia ficando cada vez mais díficil. E quando os ratos decidiram que eles não conseguiam mais aguentar aquilo, eles decidiram que alguma coisa tinha que ser feita acerca daquilo. Então eles foram em massa às urnas. Eles votaram para tirar os gatos pretos do geverno. Eles elegeram os gatos brancos. Os gatos brancos tinham feito uma campanha magnifica. Eles disseram: “Tudo o que a Terra dos Ratos precisa é de mais visão.” Eles disseram: “O problema com a Terra dos Ratos são os buracos de ratos redondos. Se nos elegerem nós vamos estabelecer os buracos de ratos quadrados.” E eles assim fizeram. E os buracos de rato quadrados eram do dobro do tamanho dos buracos redondos, e agora o gato conseguia colocar as duas patas no buraco. E a vida ficou mais difícil do que alguma vez tinha sido. E quando eles decidiram que já não aguentavam mais, eles votaram nos gatos pretos outra vez. Depois voltaram aos gatos brancos. E depois os gatos pretos. Eles até tentaram metade gatos brancos e metade gatos pretos, e chamaram a isso coligação. Eles até tiveram um governo de gatos às malhas: eram gatos que faziam barulho como os ratos, mas comiam como os gatos.

Estão a ver, meus amigos, o problema não era a cor do gato. O problema era que eles eram gatos. E porque eles eram gatos, eles olhavam naturalmente pelo gatos em vez de olhar pelos ratos.

Finalmente houve um pequeno rato que teve uma idea. Meus amigos, prestem atenção ao companheiro pequenino com uma ideia.

E ele disse aos outros ratos,

Olhem camaradas, porque é que nós continuamos a eleger um governo de gatos? Porque é que não elegemos um governo constituido por ratos?

Oh – disseram eles – ele é um Bolchevique. Prendam-no.

E eles meteram-no na cadeia.

Mas que quero lembrar-vos: podem prender um rato ou um homem, mas não podem prender uma ideia.

Tradução minha do texto Story of Mouseland como foi contada por Tommy Douglas.


Source: Anarcodemocracia